sábado, novembro 25, 2006

Outras paragens


Fiquei uns dias sumida daqui. Fora o tempo em que estive viajando, esse período de silêncio foi um tanto inédito no Santíssimas - isso porque, desde que este blog foi inaugurado, tornou-se parceiro fiel de meus devaneios e elucubrações. Eu, sem blog prévio ou paralelo, elegi esse canto como principal meio de expressão das caraminholas que me vão na testa. Ao lado das outras duas santas, fizemos uma esquina bacana para a troca de idéias e também para estabelecer contato com amigas que pensam como a gente (sem dúvida, uma das partes mais legais da história toda). Até frutos vieram, em outros endereços mais ou menos inspirados por escritos daqui.

E como o mundo girou nesses 5 meses de Santíssimas. Tanto que nem parece que começamos esse blog há menos de um semestre. De alguma forma, essas mudanças e acontecências estão todas aqui - seja em descrições literais, desabafos, posts herméticos, conversas, diálogos entre nós ou com outras queridas irmãs no ofício blogueiro. :)
Agora, os ventos sinalizam nova reforma. Todas as três, cada uma à sua maneira, estamos em intensa tempestade da alma. Buscando caminhos, definindo o que nos é mais caro, o que tem que continuar e o que tem que virar lembrança no coração. Ventos do final de ano? Pode ser. Ano movimentado, esse. Vejamos o que vem pela frente.
E por enquanto, ao menos para mim, o que vem pela frente é um novo espaço. Dando a César o que é de César, estou de mudança para um blog próprio. A necessidade, confesso, é um gesto simbólico para chamar outras mudanças na vida e na alma. Comecemos pelo blog, pois. Veremos o que vem depois.

O Santíssimas continua por aqui, mostrando nosso começo de devaneio em conjunto, com todos os posts aqui mesmo nessa página. Jeito bacana de rememorar uma época boa, que, espero, continue de outras formas - quem disse que passado bom tem que ser distante? E talvez num futuro próximo possamos retomar o projeto de novo, a três, para outros e ainda melhores repartes.

Para terminar com chave de outro essa pequena Odisséia, deixo logo abaixo um "post" que escrevi à mão, há pouco mais de um mês, quando, em terras já não tão estranhas, tive saudade deste blog e nenhum computador por perto. Impressões de fim de ciclo. Começo de reforma na alma.
Impossível deter a onda que passa. A todos e todas, muito carinho, obrigada pela companhia.
E vejo vocês no www.lualigeira.blogspot.com!

SMM

40 dias para...

- perder o medo de olhar pela janela do avião. Às vezes.
- aprender a comer peixe com limão e gostar.
- tentar comer polvo, lula e ostra e não gostar.
- passar uma janta inteira falando numa língua semi-desconhecida. E fingir que tá tudo normal.
- dar risada.
- Dançar.
- Fazer amigos.
- Chorar.
- Falar de política, história, geografia de um outro país. E a conversa ser muito interessante.
- Gostar de ouvir o Hino Nacional Brasileiro.
- Ver folhas secas e coloridas no chão, iguais às dos livros de histórias.
- Ser salva por um cappuccino.
- Tentar e conseguir.
- Tentar e não conseguir.
- Gostar de perder, às vezes.
- Chorar na despedida.
- Se sentir o máximo fazendo supermercado e pegando metrô sozinha numa cidade estranha, onde ninguém fala sua língua.
- Ser hipnotizada por um sorriso.
- Apertar a mão de 50 pessoas desconhecidas por noite.
- Adorar ouvir alguém falando português.
- Tomar vinho todos os dias sem ficar bêbada nem ter ressaca no dia seguinte.
- Sentir o coração apertado.
- Encontrar novas famílias.
- Ver a lua mais linda do mundo.
- Ficar de boca aberta com o mundo lá fora.
- Se achar quase invencível.
- Se sentir quase incapaz.
- Não ter onde guardar as roupas.
- Se surpreender.
- Ficar doente.
- Sarar.
- Andar abraçada com um amigo de madrugada.
- Ter vontade de mudar de vida.
- Conhecer pessoas em três dias e passar outros 30 querendo voltar a vê-las.
- Ficar feliz, muito feliz ao ouvir a voz da mãe.
- Ter saudade do irmão.
- Lembrar do pai toda hora.
- Ficar triste.
- Adorar uma garrafa de chá.
- Ter medo de voltar pra casa.
- Ouvir as palavras “Amore mio” pelo telefone.
- Saber que a vida, na verdade, é o agora.
- Se surpreender com as pessoas.
- Ter vontade de chorar ao visitar uma praia.
- Passar semanas sem ouvir o toque do próprio celular.
- Perder coisas.
- Se apaixonar. Por um pai, por um guerreiro, por um menino.
- Tirar 875 fotos.
- Ficar sem palavras diante de 5 mil anos de história que aparecem na sua frente.
- Se sentir culpada.
- Ter raiva.
- Adivinhar.
- Acertar e errar.
- Perder o medo.
- Perder a vergonha.
- Deixar tudo pra trás.
- Reaprender a rezar.
- Não entender.
- Esquecer.
- Ficar muito feliz em receber emails, mesmo sem tempo de ler ou responder a todos.
- Sentir amigos perto e rir sozinha na frente do computador.
- Acordar cedo todos os dias, inclusive sábados e domingos.
- Esperar o telefone tocar.
- Pedir e ser atendida.
- Pedir e se decepcionar.
- Gostar dos outros.
- Falar errado.
- Pagar vários micos.
- Gastar dinheiro.
- Voltar a ter 15 anos e sofrer pela falta de um olhar.
- Ter taquicardia e gostar.
- Decorar a tabuada do 3 toda hora de abrir a carteira.
- Ver como as diferenças podem não significar nada.
- Rir quando não devia.
- Fazer lista de piadas.
- Se apegar demais.
- Viver e sentir.Lembrar. Amar.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Soul Parsifal

Ilustração: Stephanie Pui-Mun Law

Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está desperto
É sereno o amor e santo este lugar
Dos tempos de tristeza tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar
Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar

Da alfazema fiz um bordado
Vem, é hora de acordar
Tenho anis
Tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção
Eu tenho um desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração

Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo
E depois renunciar

Estive cansada
Meu orgulho me deixou cansada
Meu egoísmo me deixou cansada
Minha vaidade me deixou cansada
Não falo pelos outros
Só falo por mim

Ninguém vai me dizer o que sentir
Tenho jasmim, tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã

Ninguém vai me dizer o que sentir
E eu vou cantar uma canção p'rá mim

(Renato Russo, revisitado)

SMM

sexta-feira, novembro 10, 2006

Friend Zone

Há alguns anos, as veneráveis meninas do 02 Neurônio - sempre citado direta ou indiretamente por aqui - escreveram em seu finado site uma crônica sobre a Friend Zone. Era o auge da série Friends e elas comparavam, sempre divertidamente, a situação de um dos rapazes da tevê (não me lembro qual, pois não assista Friends), apaixonado por uma amiga, com as agruras da vida real nossa de cada dia. A autora (acho que era a Nina) comentava sobre possíveis maneiras de detectar e reverter a situação - ou conformar-se a ela, na pior das hipóteses.

A Friend Zone ocorre quando você está a fim de alguém e, sem que se dê conta ou possa deter o processo, aquela pessoa se torna seu amigo de fé, irmão camarada. Vocês conversam todos os dias, sobre todos os assuntos possíveis. Afinidade total. Ele te dá conselhos, ouve seus problemas, conta piadas, te ajuda. Você vai ficando animada. Até que chega a hora em que ele tenta te arrumar namorado ou começa a falar da menina de quem está a fim. Esse é o momento dramático em que você percebe que está na Friend Zone.

O que fazer então? Nina listava uma série de medidas: perguntar se ele assistia Friends (já que a expressão, me parece, foi cunhada lá), agarrá-lo na pista de dança, cortá-lo rispidamente toda vez que o dito começasse a falar de outra mulher. E terminava com a consolação: lembre-se de que um dia, o cara do Friends já esteve na Friend Zone. E no final se deu bem!

Escrevi tudo isso só para acrescentar, a essa teoria, um novo ponto de vista: quando você percebe que a Friend Zone é inevitável e, por fim, resolve também aderir a ela.

E vê que pode ser saudável mudar o chip de canal. Você passa a achar que, no fundo, a Friend Zone é um bom negócio. Tudo fica mais leve, você passa a gostar mais do mundo e até da pessoa em questão. Continua muito feliz com as conversas diárias, como antes. Mas sem cobranças mentais, expectativas frustradas, pensamentos paranóicos. Friends forever. Como tinha que ser.

Mais uma prova de que certos encontros de almas podem superar tudo. E de que alguns tipos de sentimentos são maiores até do que o amor.

De qualquer forma, por mais que a conversa seja boa, deixemos o assunto "pretês" fora dela. De algumas coisas os amigos não precisam saber. Afinal... vai que um dia, né. :)


SMM

quarta-feira, novembro 08, 2006

O inferno...

... deve ser um lugar repleto de amigos apaixonados por você.
E de pessoas altamente apaixonáveis, mas que só te vêem como amiga.

Estaríamos de volta ao jardim-da-infância?

Certo estava Drummond, com sua Quadrilha.

SMM

segunda-feira, novembro 06, 2006

Ressaca

Ainda não sei bem onde estou. Parece frescura ou futilidade, mas, passada a euforia do ir e do voltar, vem a sensação de acordar num quarto que não é mais seu, ou ainda não é seu de volta. Vem a resistência à vida real, ao feijão-com-arroz. Sim, provar de novo do tempero da mamãe é maravilhoso. Mas o olhar para o céu, para o horizonte, não é mais o mesmo. Depois de se saber que se pode voar, é difícil de novo pôr os pés no chão. Até para alguém que sempre teve muito mais raízes do que asas.

E o que fazer quando o olhar procura algo impossível que ficou no horizonte? Quando o vê indo embora, belo e efêmero, com a velocidade do instante que passa? Quando se vê que não foi feito para ficar?
O que fazer quando se deixa um pedaço do outro lado e se é obrigado a largá-lo? Quando não se cabe mais, ainda que temporariamente, na redoma de vidro de todos os dias?

Na falta do que dizer, vai outro poema roubado, oportuno para o momento. Fico aqui tentando arrumar a bagunça no coração.
Em breve, voltaremos à nossa programação normal. Por enquanto, apenas o vento batendo no rosto. É tudo que quero por enquanto.

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

(Oswaldo Montenegro)
SMM

sexta-feira, novembro 03, 2006

Propaganda

Permito-me aqui fazer um pequeno merchandising: estou dividindo os relatos da viagem entre o Santíssimas e o Pastel com Chimarrão, esquina paulista-gaudéria que mantenho com a mana Taís. Como blog "regional", penso que impressões de viagem em geral vão muito bem por lá. Então tenho colocado ali alguns ricordos divertidos ou curiosos da viagem. E as demais impressões da alma, irei aos poucos colocando aqui também.
Segue o enderecículo:

www.pastelcomchimarrao.blogspot.com

É outro canto que me faz muito bem à alma freqüentar. Espero que gostem!
Buenas!

SMM

quarta-feira, novembro 01, 2006

A boa do dia

Antes de erguer um muro, sempre me pergunto
O que busco reter e o que busco deter
E a quem ofenderia, se não o fizesse.

(Robert Frost, in "O Concerto do Muro")

SMM