terça-feira, setembro 05, 2006

Milagres e pecados urbanos

Cena 1
Metrô Barra Funda, 18h30. Você apressada e uma fila quilométrica. Horário de pico. Mal dá pra ver as catracas lá na frente. Sem escolha, você respira fundo e enfrenta a multidão. Quando chega na catraca, surpresa: seu bilhete não passa. Você se esqueceu de recarregar os créditos. O relógio corre e as filas atrás de você aumentam. Sua amiga também não pode te ajudar: ela passou antes de você, o bilhete dela é de estudante e só voltará a valer dentro de dez minutos. Você dá meia-volta para enfrentar a segunda fila, e depois a terceira, e talvez perder a hora do seu compromisso. E vem outra surpresa: uma mão se estende entre você e sua amiga, segurando um bilhete unitário. O rapaz, gentilíssimo, insiste, quer que você aceite a oferta. Antes que você possa recusar, ele te faz segurar o bilhete, te dá um sorriso e some na multidão. Uh.

Cena 2
Essa é ainda melhor. Depois de um dia corrido de trabalho e de alguns gastos extras (e necessários) em duas lojas, você se lembra de que ainda precisa fazer um depósito no caixa eletrônico do banco. São 21h30. Você entra na agência e se prepara para gastar um pouco mais. Faz o depósito, atravessa a rua e pega um ônibus rumo ao lar.
Uns vinte minutos depois, toca seu celular. Um desconhecido pergunta se você é você. É o segurança da agência bancária: você havia deixado sua carteira lá, em cima do caixa eletrônico. E sua agenda também (onde ele achou seu telefone). Um frio percorre sua espinha. Você se lembra dos documentos, dos cartões, de parte do dinheiro que você tinha recebido naquele dia, e que já estava separado para o condomínio. "Vou praí agora. Mas me diga, ainda tem dinheiro na carteira? Eu vou pegar um táxi, mas preciso pagá-lo quando chegar aí". "Sim, tem 180 reais".
Você desce do ônibus desesperada. Carrega uma mala enorme, recém-comprada. Está no meio de um bairro residencial. Sem táxis à vista. Pára na portaria de um prédio. "Tem algum ponto de táxi por aqui?" Os porteiros do prédio vêem sua cara de louca e a mala enorme que você arrasta. Sei lá o que pensam, mas pegam o telefone e chamam um táxi, dando o endereço do tal prédio. Você sobe no carro contando os segundos, depois de receber outra ligação do segurança do banco: ele vai fechar a agência em dez minutos. Mas pode esperar, se você estiver perto. Além do segurança, a agência está cheia de pintores e pedreiros fazendo uma reforma. Você chega lá e o moço explica: uma garota entrou na agência, encontrou a carteira e a agenda e entregou pra ele. E está tudo lá, cada documento, cada nota. Você deixa uma gratificação para os caras que estão lá e volta para casa no busão, de novo. Passa o resto da noite em estado de graça.

Cena 3
No dia seguinte, de volta à Barra Funda. No mesmo horário superpovoado de sempre, você está na fila do metrô e uma menina te aborda, chorosa. "Moça, tem dinheiro para inteirar minha passagem?" Você passa apressada e faz sinal negativo. No minuto seguinte, o arrependimento te corrói. Puxa, depois de tudo que aconteceu ontem, e de ter sido socorrida aqui nesse mesmo lugar outro dia, o mínimo que pode fazer é ajudar. Você vasculha sua carteira (que realmente estava sem troco nenhum), acha umas três moedas de um real e volta, procurando a menina. Quando chega perto, ela está falando com um outro garoto um pouco mais novo, que entrega dinheiro pra ela. São amigos. Ele diz: "Segura aí. Ei, você tá chorando?" Num segundo, a fisionomia dela se transfigura. Ela desfaz a cara de choro, dá um riso malando e uma piscadinha para o cara. Você fica paralisada. E depois de instantes, volta para a sua fila.

Ah. As pequenas e grandes idiossincrasias da humanidade.

por SMM

3 augúrios:

Anonymous Anônimo said...

caraca
tô impactada

10:49 AM  
Blogger Mônica said...

Santíssimas! Ando meio sumida dos comments. Só deles. Porque passo por aqui todos os dias e sofro junto com vocês, dou risada, fico perplexa e faço sinal com a cabeça afirmativamente concordando com tudo. Enfim... vocês são mesmo viciantes... Eu adoro o meu momento tragadinha, quando fujo dos meus textos e venho visitá-las.

Outra coisa... SMM, seu momento libra trouxe pessoas boas no caminho, hein?! Meu Deus!!! Inacreditáveis suas histórias sucessivas de zica e sorte, ao mesmo tempo.

Flora Emilia! Fui ao show da Teresa Cristina e ela estava deslumbrante com um vestido maravilhoso do Ronaldo Fraga. Só lembrei de você, viu?! Ela cantando "Meu guri" foi de chorar pelo resto do final de semana...

E Sta Barbara... Não entendo como vc ainda se surpreende com esses "achismos" deles... Mor barato suas conversas instantaneas...

Beijos!!! Saudades! Mô

12:08 PM  
Anonymous Anônimo said...

Oi Juliana,

na semana passada você deixou o comentário abaixo no meu blog (http://larru.blogspot.com/), mas não consegui identificar quem é você. desculpe, você pode refrescar minha memória?

abs,

Oi querida, tudo bem?
Saudades de você! E que blog lindo e inspirado!
Quando puder, passa no meu também (no link aí acima)... lá sou a SMM :)
Beijos,
Juliana

2:19 PM  

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