quarta-feira, agosto 16, 2006

Reprise

Três anos atrás, minha vida social bombava. Não porque eu fosse super-hiper-requisitada para baladas, ou figurinha fácil nas colunas da Joyce Pascowitch. Mas porque tinha amigas de fé que iam dormir em casa, que me chamavam pra chopps na última hora, que me ligavam à noite e com quem eu ficava no telefone até de madrugada. Tá, eu ainda tenho essas amigas e conquistei novas. Ainda bem, porque amigas são o que salva a minha vida nessa Paulicéia Desvairada. Mas, parafraseando Renato Russo (adoro paráfrases, vocês já notaram), eu sei que alguma coisa aconteceu, tá tudo assim tão diferente.

Naquele início de 2003, eu e uma amiga vivíamos uma fase mítica. As duas passando por tempestades emocionais, por lendas urbanas, por amores confusos. As duas, cada qual à sua maneira, trocando seus objetos de amor. Eu estava às voltas com uma dessas bênçãos que entram quebrando todos os vidros, nos deixando com a sensação de termos sido atropeladas por um caminhão, e loucas pra ir de vez pra UTI. Não, eu não fui. Botei um soro na veia e segui em frente, com um curativo gigante que ficou colado na minha pele por muito, muito tempo. Curei-me, me recuperei e estou aqui, firme e forte – não sei se sã, mas isso não vem ao caso, rs. Minha amiga, atravessando redemoinho igual, me segurou a mão, foi dormir em casa, me ensinou o novo sotaque que aprendia, me levou pra festa. Em retribuição, dei-lhe de presente estímulo para seus sonhos, um ombro amigo e problemas similares para compartilharmos.
Um dia, munida da coragem das tropeiras do século XVIII, ela arrumou suas trouxas e saiu na calada da noite. Foi atrás do destino que uma manhã de greve de metrô, de táxi pifado e avião decolando lhe mostrara. Eu continuei por aqui, ouvindo de longe os ecos da minha amiga-irmã e idealizando meus próprios sonhos e planos.

Por fim, não posso dizer que os sonhos foram equivocados. O sonho se basta. Se ele virar realidade já será outra coisa, ensaio pálido daquilo que era quando habitava a imaginação. Sonhos são combustível. Se não para o futuro, com certeza para o presente.
Hoje vejo aqueles sonhos com a visão da memória, da recordação. Incrível o que três anos podem fazer na cabeça da gente. Meus amigos que o digam – a vida de quase todos mudou radicalmente nos últimos 36 meses. Hoje eu sei (ou saberei ainda mais?) o que é o vento sul, sei o que são as paisagens que antes habitavam apenas minha imaginação. Posso até arriscar o que teria ou não dado certo, apesar de saber que minhas projeções não passam de palpite. Mas sei, principalmente, que vivi momentos mágicos. Roubei um pouco do heroísmo da ficção para pintar histórias na minha alma, como criança que brinca.

Olhando pra trás, vejo que a pintura ficou bonita. E que é bom tirá-la da gaveta pra apreciar e aprender, mais uma vez, que algumas bênçãos vêm assim como o vento – de repente, nos arrebatando, desarrumando o cabelo. É bom sentir o frescor no rosto de novo, mesmo que seja, ainda, com uma promessa de novas estações.

Para terminar esse post meio nonsense, deixo aqui a frase de uma escritora gaúcha tri-boa, que outra amiga também fantástica me apresentou recentemente: “Acho que saudade a gente tem é dos pedaços da gente mesma, que vão ficando no caminho”.


Por SMM

3 augúrios:

Anonymous Anônimo said...

Chorei...

11:48 AM  
Blogger Mônica said...

Olha Jú... Como a Fer eu tb me emocionei. Além do texto ser extramamente lindo (aliás, você está melhor que Martha Medeiros), ele carrega tanto sentimento... que realmente é de fazer qualquer um chorar, rir, se identificar e saber que alguma coisa valeu a pena!!! Obrigada por ter compartilhado tais pensamentos conosco. E viva as amizades verdadeiras, tanto as antigas, como as mais recentes.
Com muito carinho;

1:11 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bom...o que dizer??
Busco em Quintana a energia para começar...
“Que as coisas são inatingíveis?
Ora! Isso não é motivo para não queré-las!
Que tristes seriam os caminhos
sem a presença distante das estrelas.”

O Minuano sopra em meu rosto e olhando para o Guaíba relembro cada minuto citado no texto...
Uma saudade imensa me toma..não da Paulicéia, mas dos olhos da amiga, sempre atenta e pronta para me ouvir e dizer palavras de carinho, apoio e incentivo.
Saí sim na calada da noite..de mala e cuia em busca de um sonho..um sonho de liberdade?Um sonho de Amor?Um ideal de vida???Não sei..talvez um pouco de tudo..
O fato é que hoje, olhando para trás fico feliz em saber que consegui (pelo menos uma vez na vida!) ouvir, compreender e seguir meu coração...como ficará o quadro ainda não sei, mas estou feliz em saber que está sendo feito com muitas mãos...
A saudade é companheira dos gaúchos...tropeiros corajosos, fortes mas que nunca negam seu amor.Amor pela sua terra, pela sua prenda...levam na bagagem erva mate, um bom pala e a saudade...sempre
Nas noites frias, longe de casa, a fogueira é companheira das lamúrias, dos desejos e dos sonhos..
Muitas vezes me vejo como eles...sentada à beira do fogo, com o mate nas mãos e uma imensa saudade no coração...olhando as estrelas e imaginando como estarão as irmãs que deixei em outro porto...
A única certeza que tenho é que faria tudo novamente..esta terra me acolheu como filha..uma Anita atrás de um sonho...em troca me entrego à ela... amo andar pelos Pampas, olhar para o horizonte e ver terras sem fim..amo terminar a tarde à beira do Guaíba, assistindo ao por do sol mais lindo que já vi...amo acordar todos os dias ao lado do Gaúcho que me arrebatou para cá...amo ser chamada de prenda, de guria....ai ai...
Termino esse texto (hermético ao último!) com um trecho de uma música muito cantada por aqui...

“É o meu Rio Grande do Sul,
Céu, Sol, Sul, Terra e Cor...
Onde tudo que se planta cresce
E o que mais floresce é o amor...”

Obrigada irmã por este presente.Como sempre, mesmo à distância você sabe o que dizer e como dizer.E lembre-se sempre que o Minuano embora forte é vento amigo; e a terra, embora fria, TEM OS HOMENS MAIS LINDOS MUNDO!!! Vem para cá! Beijão

10:14 AM  

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